sábado, 3 de março de 2018

Bate-papo artesanal #5 - Como lidar com os clientes



Eu vejo muitas artesãs reclamando por aí sobre perder tempo dando informações para clientes e esses não dizem nem um "obrigado". E geralmente são em ocasiões em que estão descansando, já tarde da noite, a artesã se levanta, vai lá no ateliê, tira fotos, manda para o cliente, e puxa vida, nem um obrigado.
E quando se trata de encomendas e a cliente fica o dia todo pedindo informações específicas, como estampas, etc, e no final das contas acaba encomendando com outra que cobra mais barato?



O que eu posso dizer a respeito:
Bom, eu trabalhei com encomendas por vários anos, e meu carro chefe eram as capas para livros (Bíblias, cadernos, etc). Necessariamente precisavam ser feitas sob medida, já que cada livro ou Bíblia tem um tamanho.
No início, quando não temos muita experiência ao lidar com a cliente, vamos fazendo tudo o que pedem, informando tudo na hora, dando atenção, correndo no dia seguinte até a loja de tecidos pra ver se tem alguma estampa do tipo que ela quer, etc. Não queremos perder a cliente, e por isso fazemos de t-u-d-o! (E no final das contas a cliente não encomenda com a gente.)
Mas não é assim que funciona. Com o tempo aprendi a me organizar e estabelecer algumas "regrinhas" internas de como eu atenderia minhas clientes.

As dicas principais que posso te dar, são:

1. Primeiro de tudo, profissionalismo. Ser educada, atender bem, dizer "bom dia, boa tarde, obrigada, estou à disposição" é obrigatório, mesmo que a cliente não te dê um único obrigada no final da conversa.

2. Estabeleça horários para atender os clientes. Se for por e-mail, por mensagem do Facebook, por Whatsapp, seja qual for o atendimento virtual, estabeleça horário de atendimento. Ao finalizar uma mensagem, por exemplo, já diga gentilmente qual o seu horário de atendimento e que estará à disposição. Inclusive esse horário de atendimento não precisa ser o dia todo. Você pode reservar um período do dia para responder às mensagens. Pode ser pela manhã, ou somente no período da tarde. O importante é deixar isso claro para os clientes.
Eu até hoje não atendo clientes por Whatsapp porque acho uma tremenda invasão de privacidade. Sei que facilita muito e a maioria dos clientes gosta desse tipo de atendimento. Mas fica muito difícil separar o profissional do pessoal com o Whatsapp. Sendo assim, recomendo fortemente que vc tenha um chip exclusivo para atendimento profissional, e quando não for horário de atendimento, desligue. Se o tempo não for bem otimizado, o trabalho vai render pouco.

3. Nunca, jamais compre qualquer material ou comece a fazer uma encomenda que não foi previamente paga. Vejo que muitas artesãs hoje em dia trabalham com pagamento antecipado de 50% do valor. Isso é o mínimo. Jamais faça sem pagamento. Eu sempre trabalhei com pagamento antecipado do valor total da encomenda e nunca fui questionada ou deixei de receber encomendas por causa disso. Volto a insistir no profissionalismo. Deixe tudo bem claro para o cliente e sempre cumpra os prazos estabelecidos.

4. Seu trabalho é seu cartão de visitas na internet. Você precisa ter um “lugar” que funcione como vitrine do que você faz, seja um álbum no facebook ou até mesmo um site. Se trabalha somente com encomendas, provavelmente as pessoas que chegam até você, já viram o seu trabalho em algum lugar e gostaram. Isso facilita para você manter um “padrão” e poder dizer não, se for o caso. Por exemplo, eu nunca trabalhei com capas personalizadas (com nome ou aplicações). Quando aparecia alguém dizendo que amou meu trabalho mas queria que eu aplicasse o nome na capa, eu gentilmente dizia que meu estilo de trabalho era daquela forma e que eu não fazia aplicações. Simples assim. Não tenha medo de perder cliente. Quando você mantém uma identidade e um estilo em seu trabalho, vai atrair as pessoas que gostam daquele estilo.

5. Mantenha um álbum de estampas. Facilita muito na hora do cliente escolher. Eu sempre procurei ter uma variedade de estampas de acordo com o estilo que eu trabalhava. Sendo assim, o cliente que queria ver as estampas disponíveis (antes de efetivar a encomenda), já tinha um álbum à disposição. Se não gostasse de nenhuma ou quisesse alguma outra não disponível, eu poderia verificar a possibilidade de encontrar a estampa após a confirmação da encomenda (ou seja, somente após o pagamento). E, veja bem, eu disse possibilidade. O cliente estava ciente que não era certeza que encontraria a estampa ou tipo de combinação desejada. Porém, após o pagamento, até vale o esforço para agradar o cliente.
Um erro que cometi e que tomava muito meu tempo era fazer combinações de estampas, fotografar e enviar para a cliente, antes da efetivação da encomenda através do pagamento. As estampas disponíveis num álbum podem e devem ser mostradas antecipadamente, mas as combinações já fazem parte do trabalho artesanal (e tomam um tempo considerável).
Sendo assim, deixe claro isso para o cliente. (Mais uma vez reforço a importância de sua vitrine de produtos, onde o cliente conhece mais detalhes do seu trabalho e pode ter confiança no seu bom gosto e nas combinações que você faz.)

6. Cumpra os prazos! Estabelecer prazo para produção da encomenda é primordial, e cumpri-lo é obrigatório. Deixe claro que o prazo é para produção, e que até tal data será feito o envio pelos Correios. Informe o prazo dos Correios (recomendo colocar uns dias a mais como margem de segurança, já que os Correios tem deixado a desejar no cumprimento do prazo de entrega), explique ao cliente que ele deve acompanhar o rastreamento informado e que qualquer problema deve entrar em contato com vc. Sim, a responsabilidade da encomenda é do remetente até que chegue nas mãos do destinatário (e o cliente deve se sentir seguro de que você tomará todas as providências necessárias que estão ao seu alcance, inclusive devolver o valor pago ou produzir novamente a peça em caso de extravio). Porém, deixe claro que após a postagem, o bom andamento da entrega depende dos Correios.

Acredite, se organizar e estabelecer suas “regrinhas” de atendimento ajudam muito no rendimento do trabalho e vai passar uma postura muito mais profissional ao seu cliente.
Mas lembre-se: tudo isso precisa ser colocado para seu cliente de forma muito gentil e educada, mesmo que você não receba a mesma educação do outro lado.  😉

Espero, de coração, que essas dicas te ajudem no bom andamento do seu trabalho!
Conte-me nos comentários como você lida com os clientes, e se já aplica algumas dessas dicas. Funciona pra você

Ahhhh! Tenho uma NOVIDADE! Estamos com um grupo lá no Facebook, e teremos muito conteúdo para ajudar as artesãs (principalmente quem está começando na costura criativa). Venha participar, clique no link: https://www.facebook.com/groups/VitaColorita/

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Bate-papo artesanal #4 - O tal do viés

Uma dificuldade recorrente no mundo da costura criativa é o tal do viés. Existe um mundo de vídeos no Youtube ensinando a colocar o viés, porém mesmo assim, muita gente tem dificuldade, e não só as iniciantes na costura.
Você pode assistir duzentos vídeos no Youtube, super bem explicados e que fazem parecer tudo muito fácil. Mas na hora que você senta em frente à máquina e vai lidar com o tal do viés, quase morre e tem vontade de jogar tudo no lixo.
Calma! Respire fundo e não desista.

Afinal, qual o segredo do viés?

Não existe mágica. Eu vou te dar algumas dicas práticas que me ajudaram a dominar o viés.

1. A costura do viés com perfeição, assim como muitas coisas na vida, vem com a prática. Sim, é isso mesmo, não tem milagre. Não adianta assistir milhões de vídeos no Youtube se você não praticar, ou tentar uma ou duas vezes e desistir. Existem várias formas de aplicar o viés numa peça, e você pode testar todas elas pra descobrir qual técnica você acha mais fácil (ou talvez menos terrível, no início). Mas o segredo é praticar. Quanto mais você praticar, menos penoso vai se tornar, até que fique fácil.

2. Não queira fazer uma peça linda-maravilhosa e colocar o viés já de cara, sabendo que você não tem prática e destreza para isso. Você vai se frustrar porque o acabamento não ficou bom e vai comprometer a sua peça. Então minha sugestão é: treine em retalhos que você tem guardados. Ou use aquele tecidinho que você comprou mas não combina com nada e está guardado há anos. Essa também é uma forma de avaliar o seu desempenho e progresso, a cada novo treino.

3. Ao treinar em retalhos, use os mesmos materiais que você vai usar quando realmente for fazer uma peça. “Ai, Vivi, mas é muito desperdício de material. Não posso usar um tecido qualquer, com aquela manta que não uso mais?” Você pode até usar materiais mais baratos para treinar, mas usar algo totalmente diferente do que você usa, vai te deixar boa com esses materiais do treino, e você pode ter outros tipos de dificuldades quando realmente for fazer com o material da peça. Pense sempre nas peças que vai fazer e nas camadas de tecidos e mantas sobre as quais o viés será costurado, e treine no retalho usando os mesmos tipos e camadas de materiais.

4. Comece treinando com o viés pronto, aquele engomado que a gente compra em armarinhos. Mesmo que você não goste da aparência dele, e ache os viés feito de tecido muito mais bonito, vai por mim: comece a treinar com o viés pronto. Exatamente por ser engomado, ele é muito mais fácil de aplicar, especialmente nas curvas, pois toma a forma da peça com facilidade, evitando as temidas preguinhas. Depois que você ficar bem craque com o viés pronto, treine com o viés de tecido.

5. O viés de tecido, que a gente faz em casa, também tem várias formas de fazer e aplicar. É fundamental que você corte as tiras no viés do tecido, ou seja, em ângulo de 45°, para que o resultado fique perfeito nas curvas. Eu testei várias maneiras com o viés de tecido. Usei até mesmo aquele “Faz Viés” que a gente coloca a tira dentro e vai puxando e passando a ferro pra formar as dobras certinhas, como o viés pronto. Mas sinceramente não gostei. Pra mim, o que melhor funciona no viés pronto é cortar as tiras num tamanho que possa dobrá-las ao meio e já fazer a primeira costura com a tira dobrada; assim, ao rebater a costura do outro lado, já está com acabamento na borda e tudo no mesmo tamanho. Também achei que assenta melhor dessa forma, sem fazer as temidas pregas nas curvas. Essa foi a melhor solução para mim. Mas como já disse, aconselho que experimente de várias maneiras pra saber qual é a mais eficiente para você.

Deixo abaixo um pequeno esquema de como faço a colocação do viés feito de tecido. Como meu pé de máquina é de 0,5 cm eu corto a minha tira com 5 cm de largura. Dobrada ela fica com 2,5 cm, o que me dá a medida suficiente para costurar de um lado e rebater do outro. Se o seu pé de máquina for de 0,75 cm, experimente cortar sua tira com 5,5 cm de largura. Essa largura também pode variar conforme a quantidade de tecidos e mantas que vc estiver costurando, pois se a camada for muito grossa, talvez você precise de meio centímetro a mais na largura de sua tira. Isso é variável e você precisará testar.
Note nas imagens, como o viés se amolda facilmente na curva; isso porque o tecido foi cortado em 45°. Se cortar no fio do tecido, não dará certo.



Espero que essas dicas tenham ajudado, ou pelo menos tenham dado ânimo novo para você não desistir!
Me conte nos comentários o que achou, e se vai continuar firme e forte até que o viés se transforme em seu amigo.  :)

Beijos,
Vivi